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Financiamento Imobiliário: Avaliando o Risco e a Viabilidade

Financiamento Imobiliário: Avaliando o Risco e a Viabilidade

24/11/2025 - 20:26
Lincoln Marques
Financiamento Imobiliário: Avaliando o Risco e a Viabilidade

O mercado de financiamento imobiliário brasileiro em 2025 exibe um cenário com resultados positivos e desafios significativos. Apesar do volume de crédito ter alcançado níveis históricos, as nuances entre fontes e modalidades apontam para a necessidade de análise criteriosa das tendências e das perspectivas futuras.

Panorama Atual do Mercado

Nos primeiros seis meses de 2025, foram concedidos cerca de R$ 134,6 bilhões em crédito imobiliário, um crescimento de 25% em relação a 2024. Contudo, dados posteriores apontam redução de 3% no mesmo período, totalizando R$ 140,4 bilhões. Esse contraste revela volatilidade no comportamento do setor e exige atenção aos indicadores macroeconômicos subjacentes.

O número de imóveis financiados também apresenta variações: 109 mil unidades no primeiro trimestre, seguido de 512 mil no semestre, mas há registros alternativos que indicam 496,1 mil unidades, 11% abaixo dos 559 mil imóveis financiados em igual período de 2024.

Fontes de Financiamento

O sistema brasileiro apoia-se em dois pilares fundamentais:

  • Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE): financiou R$ 78,7 bilhões, com crescimento de 22%, mas recuou para R$ 73,6 bilhões em dados mais recentes, refletindo queda de 10%.
  • Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS): aportou R$ 55,9 bilhões no primeiro semestre, subindo 29%, e registrou R$ 66,8 bilhões em outra fonte, alta de 6%.

Essas discrepâncias evidenciam como as dinâmicas de captação e liberação de recursos podem flutuar conforme as políticas públicas e o desempenho econômico.

Unidades Financiadas e Dinâmica de Mercado

A demanda por imóveis usados impulsiona o crescimento, enquanto o crédito para construção enfrenta retração. Entre janeiro e junho de 2025:

O destaque vai para imóveis usados, com aumento de 38% nos recursos concedidos, enquanto imóveis novos caíram 5% e o crédito para construção sofreu retração de 54%.

Programa Minha Casa, Minha Vida

O programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV) mantém papel central ao oferecer condições de crédito mais acessíveis, com juros reais próximos de zero e meta de dois milhões de unidades financiadas até o final de 2025.

  • Vendas cresceram 25,8% no primeiro semestre, alcançando 95.483 unidades.
  • No segundo trimestre houve alta de 11,9% nas vendas.
  • Projeta-se alcançar três milhões de unidades em 2026, reforçando sua relevância social.

O MCMV garante estabilidade para famílias de baixa renda e sustenta a demanda em momentos de incerteza econômica.

Modalidades de Crédito em Expansão

Além das modalidades tradicionais, duas opções ganham destaque:

Crédito com Garantia de Imóvel (CGI): permite crédito de uso livre com valor médio de R$ 240 mil por contrato e prazo médio de 13 anos. Nos primeiros cinco meses de 2025, foram contratados R$ 3,9 bilhões, alta de 3%.

Letras de Crédito Imobiliário (LCI): recuperam-se após ajustes regulatórios, com emissões crescendo 25% no semestre. A redução do prazo de carência, de 12 para 6 meses, estimula o apetite do investidor.

Indicadores de Valorização Imobiliária

O Índice Geral do Mercado Imobiliário Residencial (IGMI-R) variou 11,7% nos 12 meses encerrados em junho de 2025, ainda acima da inflação oficial de 5,4%, mas desacelerando em comparação aos 12,7% de 2024. Esses números sinalizam aquecimento moderado e manutenção de tendência de valorização, apesar das pressões econômicas.

Fatores de Risco e Desafios

Para avaliar a viabilidade dos financiamentos, é crucial considerar riscos estruturais:

  • Sustentabilidade da poupança SBPE: apesar do saldo de R$ 762,3 bilhões, houve captação líquida negativa de R$ 9,2 bilhões em março e queda nos financiamentos por poupança para R$ 10 bilhões em novembro de 2025.
  • Custos de crédito elevados: com taxa real entre 9% e 10%, famílias precisam de renda e emprego estáveis para assumir compromissos de longo prazo.
  • Desafios macroeconômicos: a alta da taxa básica de juros impactou vendas no segundo trimestre e infla a percepção de custo.
  • Endividamento crescente: a proporção de dívidas imobiliárias passou de 17,6% para 18,25% do total das dívidas das famílias, aumentando a preocupação com inadimplência.

Perspectivas e Metas para 2025 e Além

O mercado de financiamento imobiliário demonstra resiliência e adaptação frente a um cenário macroeconômico desafiador. As projeções apontam para:

- Continuidade na expansão do crédito imobiliário, impulsionada pelo MCMV e pelas modalidades alternativas.

- Possível redução gradual das taxas de juros reais, condicionada à recuperação das contas públicas e ao controle da inflação.

- Importância de políticas de estímulo à construção civil e ao setor de infraestrutura urbana, fomentando oferta de imóveis novos.

Ao analisar o panorama completo, fica claro que não basta ter crédito disponível para o mercado, mas sim contar com condições socioeconômicas que permitam a adesão segura e sustentável das famílias. Em 2025, a capacidade de adaptação das instituições financeiras, combinada a um ambiente regulatório estável, será determinante para manter o ritmo de crescimento e consolidar o financiamento imobiliário como alicerce de desenvolvimento econômico e social.

Lincoln Marques

Sobre o Autor: Lincoln Marques

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