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Moedas Digitais de Banco Central (CBDCs): O Que Vem Por Aí?

Moedas Digitais de Banco Central (CBDCs): O Que Vem Por Aí?

01/11/2025 - 23:07
Bruno Anderson
Moedas Digitais de Banco Central (CBDCs): O Que Vem Por Aí?

Em um mundo em rápida transformação, a evolução das moedas digitais de banco central emerge como um dos temas mais relevantes da atualidade. Com a descontinuação do Drex, o projeto brasileiro de Real Digital, e o novo marco regulatório para criptoativos, o cenário financeiro brasileiro se encontra em um momento de transição.

A inovação tecnológica, aliada à necessidade de garantir segurança, privacidade e inclusão financeira, redefinirá as bases das transações econômicas. Este artigo oferece uma visão completa das etapas já vividas, das mudanças no mercado de criptoativos e dos desafios e oportunidades que surgirão.

A Jornada do Drex: O Real Digital Brasileiro

O Drex representou a aposta do Banco Central do Brasil na construção de uma plataforma de pagamentos digitais atrelada ao Real. Iniciado em 2021, o projeto passou por duas fases piloto antes de ser descontinuado em 4 de novembro de 2025.

  • Primeira fase: Testes de soluções de privacidade e sigilo bancário.
  • Segunda fase: Exploração de modelos de negócios com consórcios participantes.

Apesar da interrupção, as lições deixadas pelo Drex são valiosas. Os testes revelaram tanto o potencial de agilidade e transparência proporcionado pela tokenização quanto as preocupações com a governança e o escopo de adensamento regulatório.

A tecnologia equivalente à blockchain utilizada no Drex, por meio de DLT, demonstra as vantagens de um registro distribuído, criptografado e simultaneamente acessível. Além disso, reforçou a importância de contar com intermediários financeiros regulados para garantir segurança nas transações digitais.

Durante os pilotos, houve intensa colaboração com o Senado e o setor legislativo. Parlamentares defenderam mudanças para viabilizar contratos inteligentes e garantir o sigilo bancário dos usuários. A cooperação técnica com a Febraban e a ABcripto também destacou o Drex como importante ferramenta de transição para a economia digital.

No entanto, o ritmo de mudança regulatória e os receios em relação ao controle estatal e ao uso de dados pessoais levaram à suspensão do projeto. Mesmo assim, o conhecimento gerado servirá de base para futuros desenvolvimentos no Brasil e além.

O Novo Marco Regulatório para Criptoativos

Em 10 de novembro de 2025, o Banco Central publicou três resoluções que estruturam o mercado de criptoativos no Brasil. A partir de 2 de fevereiro de 2026, novas regras estarão em vigor, trazendo maior segurança e clareza jurídica.

  • Resolução nº 519: Disciplina prestação de serviços de ativos virtuais.
  • Resolução nº 520: Estabelece regras adicionais de transparência.
  • Resolução nº 521: Regulamenta operações de câmbio e capitais internacionais.

Um dos pontos centrais foi a criação das Sociedades Prestadoras de Serviços de Ativos Virtuais, as SPSAVs, que passam a ser a nova categoria legal para empresas do setor. Apenas instituições autorizadas poderão operar com criptoativos, assegurando conformidade regulatória e segurança jurídica.

  • Informar riscos de forma clara ao cliente.
  • Avaliar perfil de risco antes de operações.
  • Prevenir lavagem de dinheiro e financiamento ao terrorismo.
  • Atender requisitos de governança e controles internos.
  • Declarar transações de câmbio com stablecoins.

Com a nova norma, as stablecoins passam a ser consideradas operações de câmbio, sujeitas ao IOF, trazendo o Brasil para o padrão global de fiscalização e tributação. Esse ajuste impacta tanto tokens privados quanto projetos internacionais que desejam atuar no mercado nacional.

Internacionalmente, na China o e-CNY avança com foco em pagamentos de varejo. Na Europa, o digital euro experimenta casos de uso restritos. Nesse contexto, o Brasil busca equilibrar inovação e segurança jurídica, aprendendo com experiências externas e adaptando soluções à nossa realidade.

Perspectivas e Desafios Futuros

O futuro das CBDCs no Brasil dependerá de como o Banco Central e o mercado privado irão integrar as inovações tecnológicas sem comprometer a estabilidade do sistema financeiro. A proteção da privacidade do cidadão continuará no centro dos debates, pois é fundamental garantir o sigilo das transações sem sacrificar transparência.

Em termos de inclusão financeira, as moedas digitais podem reduzir custos de transação e ampliar o acesso de populações em regiões remotas, onde a infraestrutura bancária tradicional é limitada. A interoperabilidade com carteiras digitais oferece um ambiente financeiro mais inclusivo e democrático.

Além de pagamentos instantâneos, as CBDCs podem viabilizar programas sociais com transferência direta de recursos, sem intermediários, elevando a eficiência na distribuição de benefícios. Experiências internacionais já apontam ganhos significativos nesse modelo.

Caminhos para Participação e Acompanhamento

Para cidadãos, empresas e startups, este é o momento de acompanhar de perto as discussões e contribuir com soluções que promovam inclusão e segurança financeira. Eventos, webinars e consultas públicas serão oportunidades para apresentar ideias e colaborar com o aperfeiçoamento das normas.

Startups de fintech podem se envolver no desenvolvimento de soluções de identidade digital e contratos inteligentes, criando cases de uso que demonstrem valor real. A participação em sandboxes regulatórios do Banco Central será essencial para testar inovações em um ambiente controlado.

Pesquisadores têm papel decisivo ao estudar criptografia pós-quântica, protocolos de privacidade e impacto socioeconômico das moedas digitais, garantindo que o Brasil esteja preparado para futuras ameaças e oportunidades.

Em suma, as moedas digitais de banco central e a regulamentação de criptoativos configuram-se como pilares de um ecossistema financeiro moderno, mais eficiente e inclusivo. Com diálogo contínuo, inovação aberta e cooperação entre setores, o Brasil tem a chance de ser protagonista na próxima revolução econômica.

Bruno Anderson

Sobre o Autor: Bruno Anderson

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